No começo dos anos 90, enquanto fazia
meu melhor para danificar meus olhos assistindo TV o mais perto
possível, era recorrente uma campanha contra a dengue na qual estavam
Chitãozinho, Xororó e seus respectivos mullets nos alertando em
forma de canção sobre os perigos da doença e as formas de prevenção.
Duas décadas se passaram, a dupla sertaneja deu uma sumida, mas a dengue
continua fazendo turnês anuais por todo o Brasil.
Esse ano, só na grande São Paulo, foram
registrados mais de 5 mil casos da doença, sendo que bairros como o
Jaguaré tiveram uma incidência de 1.578,3 casos/100 mil habitantes.
Sério, reflita sobre esse número. Nesse bairro, a cada 200 pessoas, 3
tiveram uma doença potencialmente fatal. Houve uma redução de 80% nos
casos em relação ao ano passado. Isso não significa que temos um número
bom esse ano devido ao surto dos últimos meses, que pote levar a um novo
e infeliz recorde. O ano passado já foi um absurdo, com 204.650 casos.
Em 2013, 1% do Brasil pegou dengue, e dessas 33 morreram. Pode parecer
um número pequeno, mas a dengue é além de tudo uma doença debilitante,
que faz com que o paciente perca dias de atividades e produtividade. Um
exemplo disso é o fato de alguns hospitais não conseguirem atender a
demanda, pois a própria equipe está com dengue (http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/05/pacientes-e-medicos-com-dengue-lotam-hospital-de-jau-sp.html).
A dengue é uma doença causada por um
Flavivírus. Para que esse vírus chegue até um ser humano, é necessário
um vetor, o famoso Aedes. Todos os gêneros de Aedes podem infectar seres humanos, mas Aedes aegypti
é o principal vetor. O mosquito adquire o vírus picando uma pessoa
infectada, normalmente no começo da manhã e fim da tarde. O vírus se
aloja inicialmente nas células que cobrem o intestino do inseto, para
posteriormente se espalhar por outros lugares do corpo, incluindo as
glândulas salivares. Se o mosquito tiver as glândulas salivares cheias
de vírus e picas outra pessoa, esta pobre coitada será infectada. O
vírus parece não causar mal ao inseto, que pode ficar infectado a vida
toda.
Os sintomas da dengue são bem diversos e
podem variar conforme a gravidade do caso. Normalmente as pessoas
infectadas apresentam apenas uma febre leve que pode ser acompanhada de
sintomas como dor de cabeça, dores pelo corpo, diarréia e vômitos e
erupções na pele. Cerca de 5% dos casos evoluem para estado crítico, a
chamada dengue hemorrágica. Nesse caso, todos os sintomas já descritos
podem ser acompanhados de hipotensão, convulsões, sangramentos da boca e
nariz e sangramento gastrointestinal. Em alguns casos existe alteração
de comportamento devido à presença do vírus no cérebro.
A dengue não tem cura e o tratamento é baseado em dar apoio para o corpo se recuperar e tratar cada sintoma de forma adequada. A profilaxia continua sendo a melhor forma de combate a doença, o que nos remete ao começo desse texto.
A dengue não tem cura e o tratamento é baseado em dar apoio para o corpo se recuperar e tratar cada sintoma de forma adequada. A profilaxia continua sendo a melhor forma de combate a doença, o que nos remete ao começo desse texto.
Duas décadas depois, a dengue continua
firme e forte varrendo o país. O que antes parecia um problema sazonal,
agora não tem data para acontecer. Os casos se espalham no decorrer do
ano e a população parece não ter aprendido muita coisa. Estamos cansados
de saber que o mosquito precisa de água parada para botar seus ovos,
que darão origem a larva do inseto. Ainda assim, é ridiculamente fácil
encontrar lugares propícios para qualquer mãe mosquito fazer a festa. As
ações são simples e consistem em apenas não deixar qualquer resquício
de água relativamente limpa e parada exposto por ai.
Bem vindo ao clube da dengue!
Numa tentativa de controlar o inseto,
pesquisadores criaram mosquitos machos, que não picam, geneticamente
modificados. Esses mosquitos transmitem um gene para as larvas que as
impede de fazer a metamorfose final e se transformar em mosquito adulto.
Ainda não existem dados conclusivos sobre essa tentativa, mas parece
uma abordagem interessante!
No final de toda coluna ficam expostos os benefícios que as criaturas odiadas e temidas nos trazem. Confesso que foi um esforço conseguir algo de bom para um mosquito, que consegue ser mais chato e irritante que unha encravada e funk alto no busão. Ainda assim, vejam só, o mosquito macho se alimenta de néctares adocicados, podendo agir como polinizador. As fêmeas chatas servem de alimento para uma variedade de outros animais muito mais legais. Sim, tudo e todos estão aqui por um motivo!
No final de toda coluna ficam expostos os benefícios que as criaturas odiadas e temidas nos trazem. Confesso que foi um esforço conseguir algo de bom para um mosquito, que consegue ser mais chato e irritante que unha encravada e funk alto no busão. Ainda assim, vejam só, o mosquito macho se alimenta de néctares adocicados, podendo agir como polinizador. As fêmeas chatas servem de alimento para uma variedade de outros animais muito mais legais. Sim, tudo e todos estão aqui por um motivo!
Por Daniel Zani La Laina
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