segunda-feira, 14 de julho de 2014

Você pode até comer carne, mas não é carnívoro.

Saiba que o homem neandertal adorava folha, churrasco mata e o vegetariano está longe de ser o fracote da estória.

Todos nós já ouvimos a máxima Você é o que você come. Frase bioquimicamente correta, afinal quando comemos, ingerimos moléculas provenientes do ambiente com alta capacidade de modificação/influência no nosso corpo. Moléculas construtoras ou carcinogênicas (que induzem câncer) são ingeridas todos os dias em nossa dieta. E assim, do que comemos nossas células conseguem construir suas membranas, organelas ou mesmo obter energia e prosseguir com suas funções específicas. Portanto, a sua dieta fará parte das suas células. E sim, você é o que você come. Agora prossigamos.
Estudos de correlação devem ser interpretados com cautela. Entretanto há na literatura científica várias sugestões ou revisões bibliográficas indicando a importância na escolha do que se come para a boa saúde do corpo. Este trabalho sugere um estudo inicial que constituintes específicos da dieta poderiam proteger o cérebro da doença Alzheimer. Este outro sugere uma correlação positiva entre o consumo de derivados animais (carne, ovos e bacon) com câncer de boca e orofaríngeo. Tal correlação não foi observada para o leite, que pareceu ter efeito protetor.
Para aqueles que comem carne com a justificativa de que “se come carne desde que nossos ancestrais viviam em cavernas” aqui vai uma atualização científica. Cuidado ao evocar o estilo neandertal como um estilo de vida saudável e carnívoro. Os neandertais ingeriam folhas e um churrasco contém carcinogênicos suficientes para matar de câncer três gerações. A dieta neandertal não era como se pensa, exclusiva em carne. O homem neandertal não era carnívoro, e há evidencias consistentes da contribuição de vegetais na sua dieta (veja o trabalho aqui). Contudo, para mim o mais interessante foi o uso de biomarcadores fecais num sítio paleontológico que aparecem nas fezes após ingestão de carne ou de vegetais. Pois bem, o neandertal comia folhas. Já para os adoradores de churrasco, a carne cozida a temperaturas altas contém duas famílias de agentes carcinogênicos: aminas heterocíclicas e hidrocarbonos aromáticos policíclicos. A ingestão de carne cozida em churrasco aumenta o risco de carcinoma renal (tumor de origem epitelial no rim). Veja este trabalho aqui.
Evocar estilos de antepassados não significa sabedoria. Basta abrirmos os livros de estória. Maus exemplos choverão.
Um estudo feito em 1978 e publicado no The American Journal of Clinical Nutrition faz uma revisão à época e traça a correlação direta entre a dieta da mulher na indução ou prevenção do câncer de mama. Ratos expostos a carcinogênicos foram submetidos a dietas ricas em proteínas e tiveram aumento de 77% na incidência de tumores mamários espontâneos. A longo prazo, a ingestão de proteínas animais ainda está correlacionada à obesidade (veja aqui).
Há quem ache que uma dieta vegetariana é baixa em proteína. Além de não ser verdade, este estudo mostra que mulheres vegetarianas com bom consumo de proteínas vegetais tinha ossos mais fortes e com menor risco de fratura tanto quanto de mulheres com dieta com consumo de carne, o que sugere que níveis adequados de proteína podem ser atingidos com uma dieta vegetariana.
Em relação à glicemia e diabetes, a porcentagem de diabéticos vegetarianos é sempre menor em relação a diabéticos onívoros (independentemente de idade ou gênero) – Leia aqui o trabalho. Um estudo de associação entre prevenção de diabetes e dieta vegetariana revelou que vegetarianos ingerem mais carboidratos (açúcar), fibras, cálcio, magnésio, ferro, folato, vitamina A e ingerem menos gorduras saturadas, colesterol e vitamina B12. Contudo, ao não ingerirem carnes, os vegetarianos acabam por ter refeições mais ricas em soja, vegetais, grãos, laticínios e frutas, quando comparados aos onívoros. Os vegetarianos tendem a ter refeições mais diversificadas e mais saudáveis, mesmo sendo a diferença entre onívoros e vegetarianos, apenas o consumo de carne de animais.
Dietas ricas em frutas e com baixo consumo de carne são sugeridas para a prevenção de outro tipos de câncer como adenomas colorretais.
O embate entre onívoros e vegetarianos não é de hoje. Opiniões? Muitas. Porém leitura científica e argumentos baseados em resultados válidos ainda são expectativas. Ser vegetariano ou onívoro, na maioria das vezes é escolha. E deve ser respeitada. Atacar alguém pela escolha de sua dieta é portar-se como alguém que enaltece sua opinião em detrimento da ciência. A ciência merece apreciação e debate. A opinião,  não.

Retirado de http://praciencia.com/2014/07/08/voce-pode-ate-comer-carne-mas-nao-e-carnivoro-saiba-que-o-homem-neandertal-adorava-folha-churrasco-mata-e-o-vegetariano-esta-longe-de-ser-o-fracote-da-estoria/

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